...............

Estudo 12   
A INSERÇÃO DOS BATISTAS NO BRASIL
Os primórdios da história: Urna centelha que floresceu em restolho seco
Quando falamos da história nos deparamos com vários pontos importantes em nossa vida. Por exemplo, qual o motivo de tomarmos café em nosso país? A resposta lógica vem de um costume adotado ao longo dos séculos que foi assimilado de forma silenciosa. Ou podemos dizer claramente, a razão está na história.
Ao falarmos então de nossa denominação, tal questão se torna essencial para todos os batistas espalhados no Brasil. Infelizmente poucos tem tido acesso a um estudo desta história em suas igrejas, o que tem levado a uma grande dúvida sobre nossa identidade.
Esperamos que este breve estudo instigue aos que o lerem a uma busca maior pela origem dos batistas não só Brasil, mas no mundo. Origem esta mareada por momentos de grandes vitórias, e de falhas. Ambas necessárias a uma reflexão adequada sobre os batistas brasileiros.
OS IMIGRANTES NORTE-AMERICANOS
Por volta de 1865 muitos imigrantes deixaram os Estados Unidos da América e mudaram-se para o Brasil. Cerca de 9 mil pessoas vieram neste contingente. Ao chegarem ao nosso país estabeleceram-se em di­versas regiões, formando várias colônias, como a de Santa Bárbara do Oeste, São Paulo, que particularmente nos interessa para os objetivos deste estudo.
Em 1866 estes imigrantes que vinham do Sul dos Estados Unidos escolheram esta região para se fixarem e estabelecerem uma nova vida. Tinham deixado sua terra após a famosa Guerra Civil entre o Norte e o Sul, os motivos eram os mais variados, alguns por terem receio de represálias depois da guerra e outros por terem perdido tudo no conflito.
Começaram a se reorganizar cultivando a terra, de forma a rapidamen­te terem sucesso em suas colheitas, pois eram em sua maioria agricultores. Trouxeram inclusive inovações tecnológicas, como o uso do arado, que ainda não era conhecido dos brasileiros desta região.
Enfrentaram ainda uma situação religiosa hostil, uma vez que a religião oficial no país era a católica, experimentando, por exemplo, dificuldades quanto a procedimentos comuns como os registros de nascimento, casamento e óbito. Tais serviços somente foram legalmente regularizados aos não católicos, através de um decreto imperial, em 1863. Mesmo após tal regularização o enterro em cemitérios controlados pela Igreja Católica era proibido aos protestantes.
Diante desta situação não é de se estranhar que estes imigrantes logo formassem igrejas uma vez que havia várias denominações entre eles, como metodistas, congregacionais e batistas. De forma, portanto, espontânea em 10/09/1871 foi organizada a primeira igreja batista em solo brasileiro, em Santa Bárbara, São Paulo, sendo seu pastor, Richard Raticliff.
Esta era uma igreja constituída dna maioria de imigrantes tendo que realizir seus cultos em inglês. No entanto é possível observar a preocupação deles com os brasileiros e sua evangelização, pois enviou desde o início solicitações neste sentido à Junta de Richmond (de missões estrangeiras nos EUA), entre 1873 e 1879.
OS PRIMEIROS MISSIONÁRIOS
A colônia de Santa Bárbara possuía sem dúvida um coração missionário, pois um ano após a organização da Igreja, enviaram um pedido à Junta de Richmond clamando pelo envio de missionários para o Brasil.
Tal apelo teve resultados uma vez que em agosto de 1897, duas páginas do Foreign Mission Journal foram dedicados ao Brasil como campo missionário da Junta de Richmond sob o título, "Nossa Missão Brasileira". Conclui-se daí que a igreja de Santa Bárbara foi à primeira Missão de Richmond no Brasil e elegeu o Pastor Elias Hoton Quillin, o segundo pastor da Igreja em Santa Bárbara, seu representante embora não tenha assumido compromisso financeiro com o pastor nem com a Igreja.
Diante deste novo desafio, ajunta enviou um casal de missionários para o Brasil com o propósito de ampliar este trabalho, o casal Bagby. Estes chegaram ao nosso país em 2 de março de 1881, no Rio de Janeiro e se dirigiram para Santa Bárbara onde se tornaram membros da Primeira Igreja Batista. Com o pedido de exoneração do pastor Quillin, William. B. Bagby assumiu o pastorado em 25 de maio de 1881.
Um ano após isto, mais um casal de missionários veio juntar-se à obra realizada no Brasil, Zacarias Clay Taylor e Katherine Steves Crawford Taylor. Dirigiram-se também para Santa Bárbara onde se uniram aos Bagby na Primeira Igreja. Curioso observar que em 12 de março de 1882 Zacarias C. Taylor pregou seu primeiro sermão na Igreja.
Outro homem importante para a nossa história pioneira é o ex-padre Antônio Teixeira de Albuquerque, que foi, até prova em contrário, o primeiro batista brasileiro, e também o primeiro Pastor Batista no Brasil. Seu batismo e ordenação foram realizados em Junho de 1880, sendo que sua ordenação ocorreu na Loja Maçônica George Washington, em Santa Bárbara, SP. Sua vida foi essencial para a ampliação do trabalho batista no Brasil apoiando os missionários americanos na implantação de uma nova frente missionária na Bahia.
Tendo, portanto, o desejo de plantar uma nova igreja em uma cidade que possuía uma posição estratégica o casal Bagby junto com os Taylor e Teixeira de Albuquerque partiram para a Bahia, onde em 15 outubro de 1882, organizaram a Primeira Igreja Batista da Bahia, sendo esta a terceira igreja batista organizada no Brasil. Todos vinham com cartas de transferência das duas igrejas de Santa Bárbara, a Primeira e a da Estação.
Na Bahia o trabalho de evangelização teve um crescimento gradual tendo como primeiros convertidos três mulheres: Emitia, empregada da família Bagby. Francisca, a esposa do ex-padre Albuquerque, e Mary O'Rorke, uma irlandesa que aparentemente era ama da primogênita dos Bagby. Foi na Bahia ainda que surgiu o segundo pastor batista brasileiro, João Batista, um latoeiro convertido pelo missionário Taylor, que lhe entregara uma Bíblia em sua funilaria. Comenta o historiador Reis Pereira que o latoeiro rapidamente se g; tornou um profundo conhecedor da Bíblia e um evangelista nato.
MOMENTOS IMPORTANTES DOS BATISTAS BRASILEIROS
Seria impossível em tão poucas linhas expor toda a história dos batistas no Brasil, no entanto acreditamos que alguns fatos foram importantes para a formação da nossa denominação, e por isso nos parágrafos a seguir tentaremos resumidamente apresentar alguns deles.
Em 22 de junho de 1907, na Bahia, foi aberta a primeira Assembléia da Convenção Batista Brasileira. Os mensageiros enviados eram em número de 43 pessoas. Bagby deu inicio à reunião como presidente provisório, e se encontrava profundamente emocionado com este evento e com o crescimento do trabalho Batista no Brasil. Convêm ressaltar que a idéia de organizar e estruturar o trabalho batista neste momento nasceu no coração de um outro grande líder para os batistas no Brasil, Salomão Cinsburg, um judeu filho de rabino e de origem polonesa, que se tornou batista em 1891, sendo batizado por Zacarias Taylor e posteriormente consagrado ao ministério pastoral.
A primeira diretoria eleita da recém fundada Convenção Batista Brasileira, na Bahia foi: Presidente — Francisco Fulgêncio Soren; 10 Vice-presidente — Joaquim Fernandes Lessa; 2° Vice-presidente — João Borges da Rocha; 1° Secretário — Teodoro Rodrigues Teixeira; 2° Secretário — Manuel I. Sampaio; Tesoureiro — Zacarias C. Taylor. Já nesta primeira Convenção um dos assuntos tratados foi à abertura do trabalho missionário no Brasil e no exterior, tendo como alvos estrangeiros, Portugal, Chile e África.
Na área da educação os batistas tiveram grandes homens e mulheres en­volvidas. No entanto um nome convém destacar neste breve relato, John Watson Shepard (1879-1954). Enviado pela Junta de Richmond ele chegou ao Brasil em 1906. Tinha o sonho de nos terrenos adquiridos no Rio de Janeiro, no bairro da Tijuca, fundar um dia a Universidade Batista. Embora não tenha conseguido realizar este intento, foram inaugurados o Colégio e o Seminário do Rio em 1908, que atualmente são conhecidos como Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil e Colégio Batista Shepard. Infelizmente teve que se retirar do Brasil em 1931, após retornar de suas férias nos Estados Unidos, devido a perseguiçoes de ordem administrativa por parte do próprio Seminário. Fatos semelhantes a estes se repetiriam, em diferentes momentos, na história do Seminário.
CONCLUSÃO
Muitas outras coisas poderiam ser ditas sobre os primórdios e anos seguintes da história dos batistas no Brasil e sem dúvida muitos outros momentos foram essenciais, como a chamada "questão radical" nos anos vinte, onde os batistas brasileiros entraram em conflito com os missionários americanos por uma maior autonomia na administração do trabalho, ou o racha conhecido como Renovação Espiritual, que aconteceu na Convenção de 1965 de onde surgiu a Convenção Batista Nacional devido a divergências doutrinárias.
Ambos estes momentos são fatos que enfraqueceram os batistas bra­sileiros devido a desentendimentos que hoje talvez tomassem outros rumos. No entanto toda a história é mareada por momentos felizes e tristezas, mas ambos importantes para uma reflexão sobre nossa vida. A nossa história foi construída por pessoas que tentaram fazer o seu melhor e que muitas vezes alcançaram vitórias e decepções, mas sem dúvida sem eles não estaríamos aqui hoje celebrando mais um momento do trabalho batista no Brasil.
Devemos, ao examinar estes momentos, construir em nossa própria vida frutos que sejam dignos do evangelho de Jesus Cristo, evangelho este que foi a semente trazida a esta terra por estes homens e mulheres que amavam a obra do Senhor. Sejamos, portanto dignos e demos continuidade a esta história para as futuras gerações que estão por vir.

BIBLIOGRAFIA
OLIVEIRA, Betty Antunes. Centelha em Restolho Seco— Uma Cent. buiçáo para a História dos Primórdios do Trabalho Batista no Brasil Edição da autora, Rio de Janeiro, 1985.            .
PEREIRA, J. Reis. História dos Batistas tas no Brasi11882-2001. R diee çao atualizada e ampliada, J.Reis Pereira (1882-1982), Clóvis M. Pereira